10 - Delia Lerner
LERNER, DELIA. LER E ESCREVER NA ESCOLA: O REAL, O POSSÍVEL E O NECESSÁRIO.
PORTO ALEGRE: ARTMED, 2002
Este livro traz a dimensão de trabalhar na escola as práticas de leitura e escrita como objetos de
ensino isto é a transformação da prática docente na alfabetização básica.
Capítulo 1: LER E ESCREVER NA ESCOLA: O REAL, O POSSÍVEL E O NECESSÁRIO
O que se põe como necessário para nós é o enfrentamento do real no intuito de formar alunos
praticantes da cultura escrita.
Para tanto é necessário redimensionar o ensino das práticas de leitura e escrita como práticas sociais.
Precisamos formar uma comunidade de leitores e escritores.
Para esse redimensionamento é preciso olhar e analisar cinco questões presentes na escola:
1-A escolarização das práticas de leitura e escrita e de escrita proporciona problemas intensos;
Para trabalhar na escola as práticas sociais reais é necessário uma mudança no processo de
democratização do conhecimento e da função implícita de reproduzir a ordem social estabelecida.
2-Os fins que se notam na escola ao ler e escrever são diferentes dos que dirigem a leitura e a escrita
fora dela – não há função social real;
Para uma aprendizagem significativa é necessário aliar os propósitos didáticos e os propósitos
comunicativos de ler e escrever.
3-A inevitável distribuição dos conteúdos no tempo pode levar a parcelar o objeto de ensino;
As práticas de leitura e escrita são totalmente indissociáveis que sobrevivem a divisão e à
sequenciação dos conteúdos.
4-A necessidade institucional de controlar a aprendizagem leva a pôr em primeiro lugar os aspectos
mais compreensíveis da avaliação;
5-A maneira como se distribuem os direitos e obrigações entre o professor e os alunos, determina
quais são os conhecimentos e estratégias que as crianças têm ou não a oportunidade de exercer e,
portanto quais poderão ou não aprender.
Como o dever do professor é avaliar, o aluno tem poucas oportunidades de auto controlar o que
compreendem ao ler e de auto corrigir seus escritos.
O POSSÍVEL a fazer é aliar os propósitos da instituição escolar aos propósitos educativos de formar
leitores e escritores, criando condições didáticas favoráveis a uma versão escolar mais próxima da
versão social dessas práticas.
Para esse fim é necessário:
a)A elaboração de um projeto curricular;
b)Articulação dos objetivos didáticos com objetivos comunicativos, essa articulação pode efetivar-se
através de uma modalidade organizativa sabida que são os projetos de produção-interpretação;
c)Os projetos orientam as ações para a realização de um objetivo compartilhado.
É imprescindível compartilhar a função avaliadora.
Capítulo 2 : PARA TRANSFORMAR O ENSINO DA LEITURA E DA ESCRITA
Para que a escola produza transformações substanciais com o objetivo de tornar as práticas de leitura
e escrita significativas:
Formar praticantes da leitura e da escrita e não apenas decifradores do sistema de escrita.
Formar seres humanos críticos aptos de ler entrelinhas e de adotar uma posição própria.
Formar pessoas desejosas de embrenhar-se em outros mundos possíveis que a leitura oferece,
disposta a identificar com o semelhante ou solidarizar-se com o desigual e hábil de admirar a
qualidade literária.
Orientar ações para constituição de escritores, de pessoas que saibam informar-se por escrito com os CRM Concursos – 11 3435-8353 www.lojamais.com.br/crmconcursos
demais e com elas mesmas.
Atingir produções de língua escrita conscientes da pertinência e da importância de dar certo tipo de
mensagem em determinado tipo de posição social.
O desafio é que as crianças manejem com eficácia os diversos escritos que circulam na sociedade.
Obter que a escrita aceite de ser na escola apenas um objeto de avaliação para se constituir num
objeto de ensino.
Gerar a descoberta do emprego da escrita como instrumento de raciocínio sobre o próprio
pensamento, como recurso para organizar e reorganizar o próprio conhecimento.
Resistir a discriminação que a escola age atualmente, não só quando cria fracasso explícito daqueles
que não conseguem alfabetizar, como também quando impede aos outros que aparentemente não
fracassam, chegar a ser leitores e produtores de textos competentes e independentes.
O desafio é combater a discriminação unir esforços para alfabetizar todos os alunos assegurando a
apropriação da leitura e escrita como ferramentas essenciais ao progresso cognoscitivo e der
crescimento pessoal.
É POSSÍVEL MUDANÇA NA ESCOLA?
A instituição sofre uma verdadeira tensão entre dois pólos contraditórios:
A rotina repetitiva e a moda são obstáculos para a verdadeira mudança.
As mudanças acima apontadas só serão possíveis através da capacitação qualitativa dos professores e
da instituição escolar.Será preciso estudar os mecanismos ou fenômenos que ocorrem na escola e
impedem que todas as crianças se apropriem dessas práticas sociais de leitura e escrita.
ACERCA DO “CONTRATO DIDÁTICO”
O contrato didático serve para deixar claro aos professores e alunos suas parcelas de
responsabilidades na escola e na relação ensino/aprendizagem.
Estabelecer objetivo por ciclo para diminuir a fragmentação do conhecimento;
Atribuir maior visibilidade aos objetivos gerais do que aos específicos;
Evitar o estabelecimento de uma correspondência termo a termo entre os objetivos e atividades;
Ultrapassar o tradicional isolamento entre a “apropriação do sistema de escrita” e “”desenvolvimento
da leitura e escrita”
Vale lembrar que as mudanças são possíveis se o coletivo escolar assim o fizer. A escola deve se tornar
um ambiente de formação da comunidade leitora e escritora. No caso da alfabetização, duas questões
são fundamentais: assegurar a formação de leitores e produtores de textos e considerar como eixo de
formação o conhecimento didático
CAPÍTULO 3: APONTAMENTOS A PARTIR DA PERSPECTIVA CURRICULAR
Os documentos curriculares devem aliar o objeto de ensino com as possibilidades do sujeito de
atribuir um sentido pessoal a esse saber. Não devem se caracterizar documentos prescritivos.
Os documentos curriculares devem ter como foco a adoção de decisões acerca de conteúdos que
devem ser ensinados: importante decidir o que vai se ensinar com vistas no objeto social e com qual
hierarquização, isto é, o que é prioritário.
O que deve permear essas escolhas são os verdadeiros objetivos da educação: incorporar as crianças à
comunidade de leitores e escritores, e formar cidadãos da cultura escrita.
Lerner aponta que a leitura não deve ser sem um propósito específico. A leitura e a escrita nascem
sempre interpoladas nas relações com as pessoas, supõem intercâmbios entre leitores acerca dos
textos: interpretar, indicar, contestar, intercambiar e outros. Esse é o verdadeiro sentido social dessa CRM Concursos – 11 3435-8353 www.lojamais.com.br/crmconcursos
prática.
Os comportamentos do leitor e do escritor são conteúdos e não tarefas, porque são aspectos do que
se espera que os alunos aprendam.
Comportamento leitor: explanar, recomendar, repartir, confrontar, discutir, antecipar, reler, saltar,
identificar, adaptar e outros.
Comportamento do escritor: planejar, textualizar, revisar.
A escola precisa permitir o acesso aos textos através da leitura em suas diferentes funções.
CAPÍTULO 4: É POSSIVEL LER NA ESCOLA?
Na escola é necessário trabalhar a leitura com duplo propósito: o propósito didático e o propósito
comunicativo.
O primeiro propósito corresponde a ensinar certos conteúdos constitutivos da prática social da leitura,
com a finalidade de que o aluno possa utilizá-la no futuro, em situações não-didáticas.
O segundo propósito é da perspectiva do aluno.
Como trabalhar os dois propósitos: Através de projetos que aliam a aprendizagem a uma função real
para os alunos.
Ler para definir um problema prático;
Ler para se informar de um tema interessante;
Ler para escrever ou produzir um texto;
Ler para buscar informações específicas;
Ler para escolher, entre os contos, poemas ou romances.
GESTÃO DO TEMPO, APRESENTAÇÃO DE CONTEÚDOS E ORGANIZAÇÃO DAS ATIVIDADES
É fundamental para o trabalho com essa diferente visão produzir uma transformação qualitativa na
utilização do tempo didático.
Manejar com flexibilidade a duração das situações didáticas e tornar possível a retomada dos próprios
conteúdos em diferentes ocasiões e a partir de perspectivas diversas.
As práticas sociais de leitura e escrita tornam-se mais significativas e têm seus objetivos cumpridos ao
organizar a rotina dentro das modalidades didáticas:
Projetos – apresentam assuntos nos quais a leitura ganha sentido cujos múltipos aspectos se articulam
para a elaboração de um produto tangível.
Atividades Habituais – repetem-se de forma metódica previsível uma vez por semana ou por quinzena,
durante vários meses ou ao longo de todo ano escolar.
Sequências de atividades – são dirigidas para se ler com crianças diversos exemplares de um mesmo
gênero de gêneros diferentes obras de um mesmo autor ou diferentes textos sobre um mesmo tema;
incluem situações de leitura cujo único propósito explícito e compartilhado com as crianças, é ler.
Situações independentes: estas dividem-se em situações ocasionais e situações de sistematização
ACERCA DO CONTROLE: AVALIAR A LEITURA E ENSINAR A LER
A avaliação é fundamental no processo escolar, pois possibilita verificar se os alunos aprenderam o
que o professor se propôs ensinar.
Para evitar que a pressão da avaliação se torne um obstáculo para a formação de leitores, é
obrigatório, por um lado por em primeiro plano os propósitos referentes à aprendizagem de tal modo
que não se subordinem ao controle e por outro lado criar modalidades de trabalho em o controle seja
responsabilidade do aluno.
O professor como um ator no papel de leitor CRM Concursos – 11 3435-8353 www.lojamais.com.br/crmconcursos
O professor como leitor proficiente é um modelo fundamental para os alunos. É necessário que leia e
informe aos alunos tudo que é pertinente à leitura,: estratégias eficazes quando a leitura é
compartilhada, como delegar a leitura, individual ou coletiva, às crianças , o professor está ensinando
a ler . Ele é modelo de leitor das crianças
Nesta capítulo a autora conclui: É possível sim ler na escola se: se consegue produzir uma mudança
qualitativa na gestão do tempo didático, se se concilia a necessidade de avaliar com as prioridades do
ensino e da aprendizagem, se se redistribuem as responsabilidades de professor e alunos em relação à
leitura para tornar possível a formação de leitores autônomos, se se desenvolvem na sala de aula e na
instituição projetos que dêem sentido à leitura, que promovam o funcionamento da escola como uma
microssociedade de leitores e escritores em que participem crianças, pai e professores, então..... sim é
possível ler na escola.
Capítulo 5: O PAPEL DO CONHECIMENTO DIDÁTICO NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR
A conceitualização da especificidade do conhecimento didático e a reflexão sobre a prática são
apontadas pela autora como dois fatores importantes no trabalho de capacitação de professores.
O saber didático ainda que se apóie em saberes produzidos por outras ciências, não pode ser deduzido
simplesmente deles é também o resultado do estudo sistemático das interações que se produzem
entre professor e aluno, os alunos e o objeto de ensino, é produto da análise das relações entre ensino
e aprendizagem de cada conteúdo específico, é elaborado através da investigação rigorosa do
funcionamento das situações didáticas.
O registro realizado pelo professor é fundamental para dar vida ao conhecimento
didático: quando se torna objeto de reflexão faz da prática do professor uma prática consciente e
possível de mudança.
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Simulado
1. Para Lerner, qual o maior desafio enfrentado pela escola de hoje:
a) Fazer de alunos e ex-alunos, membro plenos da comunidade leitora;
b) Fazer de alunos e ex-alunos, membro plenos da comunidade escritora;
c) Fazer de alunos e ex-alunos, membro plenos da comunidade leitora e
escritora;
d) Fazer de alunos e ex-alunos, membro plenos da comunidade critica;
e) Fazer de alunos e ex-alunos, membro plenos da comunidade comunicativa.
2. Lerner afirma ser imprescindível o compartilhamento da função avaliadora. O
professor precisa:
a) Impedir que os alunos revisem o que escrevem;
b) Delegar aos alunos o papel de revisor do que eles escrevem;
c) Obrigar os alunos o papel de revisor do que eles escrevem;
d) Forçar os alunos o papel de revisor do que eles escrevem;
e) Questionar aos alunos o papel de revisor do que eles escrevem.
3. Segundo Lerner “...temos que encarar o desafio de alfabetizar todos os alunos,
combatendo a discriminação dentro da escola”. Esta afirmação fala sobre a formação
do:
a) Aluno copista e leitor;
b) Aluno leitor e escritor;
c) Aluno leitor, escritor e redator;
d) Aluno leitor, redator e compositor;
e) Aluno compositor e criador.
4. Quando se fala no papel que incide unicamente na autoridade do professor, Lerner
direciona o olhar:
a) Permitindo a autonomia do aluno;
b) Permitindo o respeito pelo aluno;
c) Não permitindo a autonomia do aluno;
d) Permitindo o desrespeito ao aluno;
e) Controlando a autonomia do aluno. CRM Concursos – 11 3435-8353 www.lojamais.com.br/crmconcursos
5. A superação da tradicional separação entre apropriação do sistema de escrita e
desenvolvimento da leitura e escrita,segundo Lerner, deve ser:
a) Um ato centrado na repetição de significados;
b) Um ato centrado no exercício de significados;
c) Um ato centrado na construção de significados;
d) Um ato centrado na organização de significados;
e) Um ato centrado na pratica de significados.
6.Lerner afirma : É preciso que o professor estabeleça com o aluno uma relação de
leitor para leitor;
I – lendo para a criança;
II – Propondo que sentem ao seu redor;
III – Evitando interrupção ao ler;
IV – Compartilhando a leitura;
V – permitindo que as crianças tenham o livro a mão.
a) I –II –III –IV –V;
b) I –II –III –IV;
c) I –II –III;
d) I –II;
e) I.
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7. Uma escola de séries finais do ensino fundamental, após a leitura da obra de Lerner
(2002) e atendendo a sua proposta pedagógica, desenvolveu com seus alunos um
projeto voltado à formação de leitores, produtores e apresentadores de textos. As
produções seriam divulgadas em seminários organizados pelos próprios alunos sob
orientação de um professor. Os professores das diferentes séries disponibilizaram
livros para escolha dos alunos que, individualmente ou em grupo, elegeram as obras
para leitura. O trabalho foi orientado pelo professor de Português, quanto à correção
sintática, ortográfica, estilo, coerência e coesão. Os demais participavam de acordo
com o tema abordado. Entraram em cena os docentes de Ciências, Geografia,
História, Arte, de acordo com a ênfase que os alunos davam à obra. As reescritas se
deram de diferentes formas: poesias, contos, dramatizações, músicas, trazendo para
os seminários apresentações diversas de cada classe.
Reconhece-se nesse projeto, na perspectiva de Lerner (2002):
(A) o esforço da escola para atender o princípio da interdisciplinaridade, entretanto,
quando o produto envolve docentes de diferentes disciplinas, o resultado é
normalmente frustrante para os alunos, porque suas expectativas nem sempre são
atendidas por determinados professores.
(B) o esforço da escola para enfrentar o desafio de formar praticantes da leitura e da
escrita, que saibam escolher o material escrito adequado para buscar a solução de
seus problemas e que sejam desejosos de embrenhar-se em outros mundos
possíveis, por meio da literatura.
(C) o equívoco de se imaginar que esse tipo de trabalho envolve interdisciplinaridade,
o que aponta para a necessidade de aprofundar o estudo desse tema complexo e de
fundamental importância para o ensino da escrita e da leitura, quando realizado do
modo recomendável.
(D) a iniciativa da escola de oferecer a todos os alunos a oportunidade de conceber,
criar e apresentar diferentes tipos de textos, entretanto, projeto com essa abrangência
apresenta resultado pouco significativo para alunos com maior dificuldade de
aprendizagem.
(E) a preocupação dos educadores em promover a leitura entre os alunos, sob o
artifício da organização de um seminário; entretanto, para formar leitores, o professor, CRM Concursos – 11 3435-8353 www.lojamais.com.br/crmconcursos
conhecendo de antemão as obras, deve indicar um livro de leitura agradável para cada
aluno.
8. Em uma sala de ciclo inicial do ensino fundamental o professor escreve na lousa
sílabas para que os alunos copiem. Ensina-os a ler e depois de sequências de sílabas
introduz a formação de palavras, com exercícios diários, levando, com esse trabalho
didático, seus alunos ao mundo da escrita e da leitura.
A análise da prática docente relatada, à luz das reflexões de Lerner (2002), permite:
(A) identificar uma transposição didática não controlada que leva a língua escrita,
criada para representar e comunicar significados, a aparecer, na prática docente,
fragmentada em pedacinhos não-significativos.
(B) identificar a utilização do método silábico pelo professor e, se a experiência
alcançar bons resultados de alfabetização, deve ser divulgada pelo sistema de ensino,
permitindo que outros docentes a conheçam e a adotem.
(C) reconhecer que o professor trabalha com o método que domina, portanto, se
alcança resultado, deve ser respeitado, pois a liberdade de cátedra dá ao docente o
direito de escolher o melhor para seu aluno.
(D) perceber o fenômeno da transposição didática, uma prática em que o docente
reproduz em sua prática as experiências vividas como aluno, transpondo, em aula, os
princípios pedagógicos que assimilou.
(E) identificar o fenômeno da transposição didática enquanto experiência eficaz,
porque, segundo a autora, partindo do mais fácil para o mais difícil, o professor leva o
aluno ao domínio da escrita e da leitura.
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Gabarito
1-C 2-B 3,-B 4-C 5-C 6-A
7-B 8-A
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